sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Congresso Internacional do Medo


Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

                                                        Carlos Drummond de Andrade

Análise
O poema “Congresso Internacional do Medo” de Carlos Drummond de Andrade pertence à segunda fase do Modernismo brasileiro (poesia), mais especificamente da segunda fase poética de Drummond e apresenta-se em uma única estrofe de 11 versos sem rimas externas. Possui versos de tamanhos variados (sílabas poéticas também distintas) e ritmo longo, tornando-o lento, principalmente por causa das várias vírgulas presentes, que dão ideia de pausa. Percebe-se, também, léxicos que estão presentes no mesmo campo semântico dos sentimentos (“amor”, “ódio” e “medo”) que se distinguem entre si no contexto do poema e podemos observar que “medo” (substantivo abstrato) prevalece porque esse sentimento ganha uma ênfase maior no poema, podendo o título (“Congresso Internacional do Medo”) confirmar isso. A partir desse titulo verificamos que se trata de um sentimento específico não somente do Brasil, mas do mundo como um todo, desse modo o medo, para o poema, é universalizado. O autor recorre, ainda, a elementos do espaço físico, tais como: “sertões”, “mares”, “desertos”, “igrejas”, “túmulos” e “flores”, para enriquecer e dar mais veracidade à sua obra.
O “Eu Poético”, em meio a tantos sentimentos, prefere falar através do “medo”, que é um sentimento que gera angústia, dúvida, desequilíbrio, insegurança e confunde-se, paralelamente, como um pai e seguidor, devido ao contexto social da época, já que o período em que o poema foi escrito estava em clima de guerra mundial, de dor, sofrimento, morte, túmulos e muito medo. Desse modo, o “Eu Poético”, trata o medo como a força que vence e estanca as forças humanas, pelo fato de se estar vivendo num mundo que está em caos, repleto de ditadores, soldados e mortes, contribuindo, tais fatores, para que as pessoas fiquem apavoradas e, conseqüentemente, desequilibradas. Nota-se que esse “eu” que fala, busca sérias transformações sociais e políticas para evitar que o negativo contexto vivido na Segunda Guerra Mundial não se torne uma continuação para os anos seguintes a ponto de nos deixar “amarelos” e inseguros de medo.
Encontramos nesse poema, algumas figuras de linguagem, entre as quais podemos citar a personificação dos substantivos abstratos, especialmente o medo; o uso marcante de repetições, que têm o intuito de chamar a atenção do leitor, já que o medo, como se sabe, foi constante em meados dos anos de 1940 e transformou a vida das pessoas em um verdadeiro caos que é constante tais quais essas repetições. Além disso, verificamos que há os recursos sonoros, que apesar de não haver rimas externas no poema, há rimas internas e a predominância de aliterações, pois a repetição sonora da vogal ”o” é bastante visível (“existe apenas o medo [...] / cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, / cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,”). Outra figura muito presente no poema é a metáfora (“e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.”).


6 comentários:

  1. Que lindo, Su.
    Amei!

    Medos, todos temos. Alguns assumem e poucos demontram!

    Quer saber? Admiro vc por não ter tido medo de tomar a decisão que tomou recentemente na sua vida. Parabéns!

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  2. Medo? Nem sei quantos são os meus.
    Só sei que já perdi muita coisa na visa por tê-los.

    Um beijão p/ vc Tia Su.

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  3. Isso é Drummond...!

    Ele é genial e você também por lembrá-lo.

    Um abraço.

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  4. Amei, gostaria que me mostrasse a análise do poema de acordo com a semantica. Desde já agradeõ muito!

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  5. Gostei da sua analise, porém no ultimo parágrafo o correto seria uso da assonância e não aliteração, uma vez que a primeira consiste em repetição de consoantes, já a última se refere à repetição de vogais, neste caso a vogal "o".

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