segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Mensagem X Os Lusíadas

Mensagem é o livro mais célebre do importante poeta português Fernando Pessoa e o único que ele publicou ainda em vida. Está composto por 44 poemas e foi chamado pelo próprio autor de "livro pequeno de poemas". Foi publicado em 1934, tendo demorado 21 anos para ficar pronto.

Trata-se de um livro que volta ao passado heróico de Portugal, apresentando, em vários trechos, uma mitologia repleta de símbolos. Está dividido em três partes, com uma epígrafe, em latim, antecedendo-as. A primeira, Brasão, utiliza os diversos componentes das armas de Portugal para revisitar alguns personagens da história daquele país. A segunda, Mar Português, inclina-se sobre a época das grandes navegações, colocando em evidência figuras como o Infante D. Henrique, Vasco da Gama e Fernão de Magalhães, mas não se limitando a elas, apenas. A terceira, O Encoberto, é a parte mais simbólica e sebastianista, falando, ainda, de outras figuras da história de Portugal. O termo "O Encoberto" é uma designação ao antigo rei de Portugal D. Sebastião, o que demonstra sebastianismo. Essa última parte está cheia de avisos e pressentimentos fortes. Percebe-se a intensão de uma mensagem profética, funcionando na base do ocultismo ou no estoicismo.Tratando-se, também, do possível aparecimento de um Quinto Império.

Analisando as semelhanças entre Mensagem, de Fernando Pessoa e Os Lusíadas, de Camões, parece-nos simples dizer que ambas são semelhantes em propósito, como obras de exaltação nacional, mas isso oculta, uma certa complexidade. Segundo António Quadros, um estudioso de Pessoa, Mensagem é um poema nacional, uma versão moderna, espiritualista e profética de Os Lusíadas. Quadros afirma que na realidade o que poderá ser confundido com nacionalismo, com exaltação dos valores do que constituiria a alma nacional portuguesa, acaba por não constituir o tema principal da obra de Pessoa.

O humanismo presente em Os Lusíadas traduz-se em um povo escolhido por Deus para estender um império cristão para Sul. Camões evoca um D. Sebastião ainda vivo, ciente que está em um Império que embora em perigo pode ainda sobreviver e renovar-se, enquanto que Pessoa evoca um D. Sebastião morto, feito já mito e esperança. Seja como for, há uma semelhança fundamental: ambos os poemas não são saudosistas, como parecem, mas sim exortativos, renovadores e muito ousados. O que os distancia, aproxima-os, de alguma maneira. Isto porque, se estudarmos os detalhes que motivaram esses poetas, encontraremos, por exemplo, rios antigos com leitos misteriosos, que se referem ao Sebastianismo, ao Quinto Império, a Mitogenia etc. Na realidade, mais do que apenas um império material, da conquista, do ouro e dos escravos, o Quinto Império, noção nascida da Bíblia na famosa profecia de Daniel, significa tanto para Camões como para Pessoa, um desígnio maior, algo muito misterioso.

Enquanto Os Lusíadas exortam intensamente, um D. Sebastião presente, da esperança na renovação do Império decadente, Mensagem é a exortação do mito Sebastianista, do rei morto e agora feito apenas futuro. Para Pessoa, o Sebastianismo é a religião nacional, fundada num mito que já seria familiar.

O Sebastião de Camões é enérgico e aventureiro, como um cavaleiro da época. O Sebastião de Pessoa é, de fato, um mito, despojado de vestes humanas, um “espírito”. Talvez seja por isso que Mensagem apresenta mais súplica do que Os Lusíadas, e, portanto menos grandiosa e mais ocultista. Concluindo: há esperança em Os Lusíadas, utopia em Mensagem.


Um comentário:

  1. Mensagem eu li e é bom, mas Lusíadas comecei e não consegui terminá. Vc leu todinho? Teve saco? Pq oh livro chato!

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